Mamulengo, s.m. (bras.) Divertimento popular, que consiste em representações dramáticas por meio de bonecos.

Pré-história

O teatro de bonecos nasceu na Índia ou na China, são diversas as lendas sobre sua origem nesses dois países. Os gregos antigos também já conheciam esse teatro que chamavam de “neuropasta” (neuron = nervo). Em Roma, eram apresentados em comemorações e banquetes e chamavam-se imagulae animate (imagens animadas), homunculi (homenzinho), ou, simplesmente, pupae (bonecos).

Bastante popular na Europa, com a mesma estrutura dramática da commedia dellarte, na época das grandes navegações, apesar de hora ser perseguido, hora ser usado pela igreja, o teatro de bonecos sobreviveu às perseguições políticas e religiosas.

Existem teses bem fundamentadas sobre “títeres pré-hispânicos” na América central e um monumento de pedra denominado “bilbao 21” na guatemala mostra uma figura humana segurando em uma das mãos um boneco de luva.

Sobre a África é preciso recuperar a dívida histórica e recontar toda história… Mas basta olhar para um “mamulengo” ou mesmo sentir o sabor dessa palavra para saber que a história oficial nega o “DNA” africano em nossa formação cultural.

Brasil

O certo é que o boneco chegou até o Brasil, através de companhias ou marinheiros brincantes,  com vários nomes e formas distintas (engonço, bonifrate, presepe…) e embora não possamos precisar exatamente por onde nem como ele chegou (é preciso que se faça estudo mais rigoroso e atualizado) foi no nordeste onde absorvendo influências locais que o boneco mais se desenvolveu como arte popular recebendo diversos nomes e particularidades de acordo com a região (Mamulengo – PE, Babau – PB, João Redondo ou Calunga no RN e Cassimiro Coco no CE, PI e MA). Já existiu em Minas Gerais com o nome de Briguela que é o mesmo nome que recebe no norte da Itália e também um personagem da Comedia Dellarte.

 Como arte popular sobreviveu longos anos sendo desprezado ou perseguido pelas classes dominantes, até que no final do século  IXX e início do XX passou a ser citado e estudado como “folclore”. 

Transmitido oralmente, por convívio, de pai para filho, de mestre para aprendiz através de gerações, ao longo dos séculos, sobrevive, ainda, em sítios, povoados, praças, feiras e centros populares principalmente do nordeste, mas já pode ser visto também em cidades onde é marcante a presença de nordestinos como; Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.

         Em sua forma aparentemente simples, revela soluções cênicas originais e engenhosas. Centrada na capacidade de improvisação e no espírito cômico do mamulengueiro, cada “brincadeira“ é única. Através da comunicação direta com o público, os temas, personagens e histórias, são constantemente atualizados e adaptados às diferentes situações e platéias em que se apresentam, revelando uma estrutura singular, em constante estado de transformação mantendo ao mesmo tempo uma estética tradicional, carregando elementos históricos de um teatro popular, milenar e universal.

A ESTRUTURA DO MAMULENGO

         Os bonecos, verdadeiros “tesouros da arbitrariedade caprichosa” são feitos, geralmente de madeira e tecido, de feições caricaturais e sempre lembram algum tipo social bem conhecido; um político, um religioso, um aventureiro, um patrão, um doutor, uma senhora proprietária, uma moça solteira, um trabalhador rural, alguns bichos naturais, e até criações do outro mundo como almas penadas, jaraguás e diabos.

         O palco pode ser qualquer tecido onde o mamulengueiro se esconda atrás e os bonecos possam subir para brincar, mas também encontramos barracas de madeira com boca de cena e cortinas de correr como nos palcos italianos.

         O mamulengueiro é geralmente um homem com grande capacidade para inventar histórias e improvisar situações com os bonecos, brincando com o público e fazendo críticas aos costumes sociais, esse artista popular viaja pelo mundo possível, as vezes convidado as vezes tentando a sorte, as vezes querido as vezes excomungado, as vezes só as vezes acompanhado.

         A música pode ser ao vivo ou mecânica e varia entre forró, baiano, coco ou frevo.

         Confirmando a hereditariedade a estrutura dramática do mamulengo é a mesma da Commedia Dell`arte. As histórias, contadas por personagens mais ou menos constantes, geralmente partem de antigos roteiros transmitidos oralmente de geração a geração, são clássicos populares que, adaptados livremente por cada mamulengueiro, vão se transformando para acompanhar a realidade sempre dinâmica.

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